domingo, 6 de julho de 2014

Relação do texto “Modelo dos Modelos” Ítalo Calvino com o Atendimento Educacional Especializado

“O modelo dos modelos”
Italo Calvino

Houve na vida do senhor Palomar uma época em que sua regra era esta: primeiro, construir um modelo na mente, o mais perfeito, lógico, geométrico possível; segundo, verificar se tal modelo se adapta aos casos práticos observáveis na experiência; terceiro, proceder às correções necessárias para que modelo e realidade coincidam. [..] Mas se por um instante ele deixava de fixar a harmoniosa figura geométrica desenhada no céu dos modelos ideais, saltava a seus olhos uma paisagem humana em que a monstruosidade e os desastres não eram de todo desaparecidos e as linhas do desenho surgiam deformadas e retorcidas. [...] A regra do senhor Palomar foi aos poucos se modificando: agora já desejava uma grande variedade de modelos, se possível transformáveis uns nos outros segundo um procedimento combinatório, para encontrar aquele que se adaptasse melhor a uma realidade que por sua vez fosse feita de tantas realidades distintas, no tempo e no espaço. [...] Analisando assim as coisas, o modelo dos modelos almejado por Palomar deverá servir para obter modelos transparentes, diáfanos, sutis como teias de aranha; talvez até mesmo para dissolver os modelos, ou até mesmo para dissolver-se a si próprio.
Neste ponto só restava a Palomar apagar da mente os modelos e os modelos de modelos. Completado também esse passo, eis que ele se depara face a face com a realidade mal padronizável e não homogeneizável, formulando os seus “sins”, os seus “nãos”, os seus “mas”. Para fazer isto, melhor é que a mente permaneça desembaraçada, mobiliada apenas com a memória de fragmentos de experiências e de princípios subentendidos e não demonstráveis. Não é uma linha de conduta da qual possa extrair satisfações especiais, mas é a única que lhe parece praticável.

Ao realizar a leitura do texto acima e fazer uma relação com o Atendimento Educacional Especializado, é notório perceber reais mudanças que ocorrem nas Escolas Regulares quanto a inclusão do alunos com deficiência.
O acesso e direito à escolaridade, por muitas décadas, esteve associado a grupos minoritários.  Com o passar dos anos e, com surgimento do processo de democratização da educação, os sistemas de ensino universalizam o acesso à educação, entretanto, continuaram os processos de exclusão dos grupos que não se enquadravam nos padrões normatizados da escola. A partir da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), pode-se verificar que o paradigma inclusivo garante acesso e permanência a todos na escola por meio da qualidade do ensino.
No contexto atual, os alunos constroem o seu próprio conhecimento partindo de sua capacidade, limitações e potencialidades sem perder o direito de expressar suas ideias. É importante que estes alunos não sejam vistos como especiais ou diferentes por suas limitações e sim que todos cresçam apesar de suas diferenças. Portanto, para que isso se efetive na prática, principalmente no cotidiano do AEE, devemos eliminar a padronização de modelos, adotando a singularidade do indivíduo como ponto de partida para um trabalho construtivo de fato.
A proposta inclusiva vem de encontro aos paradigmas vivenciados na história da educação especial em nosso país, pois percebe e repudia as práticas excludentes seja em âmbito escolar quanto social. Desse modo a escola passa a introduzir técnicas e alternativas metodológicas que possibilitem ao indivíduo atendimento que respeite suas características formas/estilos de aprendizagem. Em outras palavras, a educação inclusiva “(...) avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola”. (BRASIL, 2008, p. 5).
Dessa maneira, o trabalho realizado no AEE é constituí a partir das potencialidades do aluno, destacando a importância do que a criança sabe, de como podemos propor atividades de maneira que esta possa participar sem reservas, sem restrições, apenas utilizando-se de adaptações. 
Esse texto “o modelo dos modelos” nos remete ao pensamento relacionado a inclusão de alunos que não estão nos “modelos” desejados pela sociedade. É através da inclusão que é possível transformar e repensar na educação comum, onde seja oportunizada igualdade de oportunidades e de participação, sem esquecer que esse processo deve primar pela qualidade, respeitando cada sujeito reconhecendo sua singularidade.
Irlanda Nascimento